segunda-feira, 29 de junho de 2020

Pule, Arya! - Capítulo Um: Não foi um Sonho




Durante toda a sua vida, Arya conheceu lugares lindos, exóticos, mas também conheceu de perto a miséria. A vida no circo não era fácil. Principalmente à medida que os anos iam passando. Com a globalização e os avanços tecnológicos, muitos desistiam de ir ao circo, para ficar sentados em frente a seus computadores ou TVs de última geração. A cada dia que passava, tornava-se mais difícil manter todas as atrações do lugar.

Arya conhecia aquele circo com a palma de sua mão e sabia exatamente o que seria quando tivesse idade: seria “arremessadora de facas”. Ela tinha um grande fascínio por tais lâminas. Seus pais, quando souberam, ficaram maravilhados, mas preocupados por ela ser uma garota. Querendo ou não, existiam alguns preconceitos também naquele ambiente. 

Todos achavam que ela seguiria uma das linhas da família: acrobacia, paixão de sua avó, ou ilusionismo, paixão de seu avô. Para não deixá—los tristes, ela sempre ensaiava com ambos. Amava quando via aqueles enormes sorrisos estampados nos lábios deles ou quando via um brilho de felicidade em seus olhos. Arya fazia de tudo para ver seus avós e pais contentes.

Durante muito tempo Arya teve uma vida, digamos, normal no circo. Mas no ano de 2013, uma enfermidade tirou seu pai da vida de espetáculos. Ele estava com câncer no pâncreas. A doença foi diagnosticada em um estágio um pouco avançado, mas os médicos estavam otimistas, contanto que o tratamento fosse feito com uma certa urgência.

— Não sei mais o que fazer... — Arya, largada no beliche, comenta com Sophie, uma das assistentes do circo.
— Calma, Arya! Tudo dará certo. Todos nós estamos mobilizados para conseguir o dinheiro.
— Eu sei disso, Sophie. Mas mesmo sabendo disso, meu coração ainda está apertado.
— Eu te entendo. Descansa um pouco. Sei como deve estar cansativo para você. Ficar no lugar de seu pai durante os shows, trabalhar como baby sitter durante o dia e ainda alternar com sua mãe no hospital...
— Realmente é desgastante, mas não posso sobrecarregar minha mãe. Sei o quanto ela está sofrendo com a doença do meu pai. Tenho que fazer de tudo para ela não sofrer.
— Mas você também pode pedir ajuda ao pessoal do circo.
— Vocês já estão fazendo tanto por nós...
— E Casey?


— Uhm... O que tem ele?
— Não o vejo mais por aqui.
— Sinceramente... É até bom que ele não apareça. Assim eu não perco meu foco.
— Como você pode fazer assim? Ele é seu namorado.
— Sophie... Por favor... — Arya riu, irônica. — Considerar namoro dois encontros? Um no cinema e outro no parque de diversões?
— Ué... Mas rolou uns beijos.... Uns amassos, não rolou?
— Ah, isso é normal. Como eu ia saber se o beijo dele era bom ou não se não testasse?
— Uhm...
— Só acho que você está romantizando esses dois encontros. Saímos sim. Ele tem um papo agradável. Mas o principal não teve...
— Mas, Arya, não te entendo. O cara gosta tanto de você. Ele só precisa de um tempo para se adaptar ao príncipe encantado que você deseja.
— Sophie, não força a barra, ok? Deixe as coisas como estão. É melhor assim! E só para que você saiba, eu não desejo nenhum príncipe encantado. — Ela suspira. — Príncipe encantado é um grande e maléfico marketing.


— Deixa eu me iludir um pouquinho? — Sophie ri, mas rapidamente olha sério para a amiga. — Você não gosta dele nenhum pouquinho?
— Gosto! Claro que gosto dele. Por isso somos amigos.
— Ainda não consigo entender. Você poderia ser menos egoísta e pensar um pouco nos sentimentos dele.


— O que você não entende? Não teve química... Um relacionamento para dar certo necessita de várias coisas. — Ela suspira. — Casey é um cara legal, mas para amigo. Digamos que, no quesito namoro, ele ainda seja imaturo.



— Acho que você está escolhendo muito...
— Mas é claro que eu tenho que escolher! Se o namorado será meu!... Quem passará muito tempo com ele, serei eu... Então o cara deve estar nos parâmetros que eu almejo. Para que escolher alguém que não te atrai? Escolher alguém que só de pensar nele, não dá borboletas no estômago? — Ela joga o travesseiro na amiga. — Eu quero “o” cara e não “um” cara. E é bem melhor ser má agora e não iludi-lo, do que ser legal e machucá-lo mais tarde.
Sophie, que não espera ser atacada dessa forma, recebe o travesseiro direto no rosto, mas cai na risada depois:
— Você é maluca, Arya. Vamos dormir que amanhã o dia será longo.

Tema de Arya 




As semanas se passam lentamente. Arya e sua mãe se alternam entre hospital e os outros trabalhos. Felizmente, com a união de todos, o valor cobrado, pelo hospital, para o tratamento de Caleb, é conseguido, e, assim, ele pode dar início à radioterapia.

O tratamento não foi nada fácil. Durante todo o tempo em que ficou internado, Caleb sofreu com os efeitos colaterais: xerostomia (uma diminuição no fluxo salivar, deixando a boca mais seca), mucosite (feridas na boca, acarretando dor e dificuldade para se alimentar), odinofagia e disfagia (dor e dificuldade para engolir), dormência dos membros superiores e os constantes vômitos. O homem alegre, forte, ativo, engraçado, confiante e amável, deu lugar a um homem ranzinza, estressado, teimoso e pessimista. E isso acabava deixando Arya muito abalada.

— Pai... Deixe-me ajudá-lo a levantar. — Arya comenta, se aproximando da cama do pai.
— NÃO PRECISA!!!! NÃO SOU NENHUM INVÁLIDO. — Caleb fala, aos berros.

Por conta dos gritos do pai, Arya acaba ficando imóvel onde está. Os olhos cheios de lágrimas. Uma enfermeira adentra o quarto correndo:

— Aconteceu alguma coisa?
— TIRE ESSA GAROTA DAQUI! — Caleb ainda grita. — VÁ EMBORA!
— Mas pai... Eu... — Arya não consegue terminar de falar, pois a enfermeira a olha e faz um sinal para que ela saía do quarto.

Completamente arrasada e com as lágrimas rolando por sua face, Arya sai do quarto.


Caleb vê sua filha sair arrasada. Mas se ele não fosse realmente duro com suas palavras, Arya continuaria ali, ao seu lado. E ele não queria que sua filha deixasse de viver por conta de uma doença que assolou sua saúde. “Me perdoe, princesinha!”, Caleb pede em silêncio. “Você tem que viver a sua vida. Acredite e siga seu coração.



Arya dá poucos passos para fora do quarto. Seu corpo e sua mente estão completamente abalados. Ela se recosta na parede e o cansaço a faz deslizar até ficar agachada. Coloca as mãos sobre o rosto: 
— Não sei mais o que fazer... — Sussurra para si mesma.
Em meio aos seus devaneios, sente uma mão tocar o seu ombro. Assustada, ela se levanta rapidamente e, antes que possa ver quem estava ali, cambaleia, zonza.

Tema de Caleb



Com os olhos ainda pesados, Arya vai recobrando a consciência.
— Hey... Como você está? — Uma voz masculina a interpela.
— Eu... Eu estou bem... — Tenta se levantar da maca.
— Calma! Seu corpo ainda está fraco.
— Eu preciso ver meu pai.
— Arya! Por favor... É melhor ficar mais um pouco descansando. — Tom preocupado.
Essa voz lhe é familiar. Sua visão, que há poucos minutos estava turva, começa a voltar ao normal. — Casey?
O rapaz dá de ombros, mas logo em seguida esboça um lindo sorriso.



— Por que você está aqui?
— Ele vem todos os dias fazer companhia a sua mãe. — A enfermeira, que está retirando o soro aplicado em Arya, comenta.
Casey olha feio para a enfermeira, dando a entender que não era para ela ter dito nada. A mulher apenas mexe os lábios pedindo desculpas e se retira.
— Por que ninguém me disse que você estava vindo aqui? — Arya pergunta.
— Uhm... Você me pediu espaço, lembra? — Ele fica observando-a. — Mas seus pais são importantes para mim. Então para não te deixar sufocada, preferi vir no horário em que sua mãe está.
— Entendi... Obrigada... — São as únicas coisas que Arya consegue pensar naquele momento.
— Não precisa agradecer. Você sabe o quanto é importante para mim. Não é porque você não sente a mesma coisa que eu, que eu deixarei de ser seu amigo. — Ele suspira. — Quem sabe um dia você perceba que sou o cara certo para você.
Arya não tem coragem de olhar para Casey. A única coisa que consegue fazer, e com um pouco de dificuldade, é descer da maca.
— Nem em um momento como esse você muda... Continua a mesma teimosa de sempre. — Casey riu. — Vamos! Eu te levo para casa.
— Não precisa se incomodar. Eu ficarei com meu pai.
— Arya... Casey fala com um tom de quem já está perdendo a paciência. Seu pai está medicado e dormindo. Por conta dessa alteração psicológica dele, o médico preferiu restringir as visitas. Por isso estou aqui. Sua mãe pediu que eu a trouxesse, já que seu pai chamou por ela.
— Isso não é justo! Como ele pôde me excluir assim?
— Provavelmente seu pai acha que está sendo um estorvo para você.
— Mas ele não é nada disso. Que droga! Arya sai do quarto de descanso e vai até o quarto do pai. Ao abrir a porta, sua mãe logo se apressa em atendê-la e, educadamente, ir empurrando-a para fora do quarto:
— Minha filha, pensei que Casey já tivesse te levado para casa.
— Mãe, como o papai está? Por que ele não quer que eu fique aqui?
— Querida, essa situação é muito difícil para seu pai. Ele não quer que você o veja nesse estado. Ele quer que você sempre se lembre dele como um homem bonito, forte, bem-humorado.
— Mas é sempre assim que eu o vejo. Será que ele não percebe isso?
— Arya, seu pai é cabeça dura. Vamos esperar um pouco. Irei conversar com ele. E assim que ele mudar de ideia, eu te aviso. Mas vá agora! Não quero deixá-lo sozinho.


Chateada com tudo isso, Arya abraça a mãe e relutantemente sai dali, caminhando até Casey.

— Não fique assim. — Ele toma coragem e a abraça.  — Vamos... Eu te levo para casa.
Caminhando lentamente, como se não quisesse deixar o hospital, Arya foi seguindo para o estacionamento.
— O carro está logo ali. — Casey comenta, caminhando um pouco mais rápido. E assim que se aproximam do carro, ele abre a porta para ela: — Entre... Você deve estar com frio.

Arya dá um riso sem ânimo para ele e entra.

Casey fecha a porta, dá a volta e, por fim, também entra no veículo, pelo lado do motorista. Dá a partida, liga o aquecedor e sai em direção à casa de Arya.




Casey estaciona o carro. Olha para o lado e percebe que Arya está dormindo. Ele, então, desliga o veículo e senta de uma forma que dê para observá-la.

— Por que você não percebe que eu te amo? Por que criou uma muralha em seu coração e não nos dá uma chance? Casey sussurra. Como eu queria que você acreditasse que eu faria tudo por você... Eu amo você... Apenas amo... Ele se aproxima mais e tira uma mecha do cabelo de Arya que estava grudada na testa dela. Você é tão linda. Casey observa os lábios da garota. Suas pupilas dilatam demonstrando um desejo súbito de beijá-la. Arya, acorde. Ele sacode lentamente o ombro dela e desiste do beijo.

Arya se espreguiça demoradamente:
Caramba! Capotei literalmente.
— Percebi. — Casey comenta, rindo, e vai se afastando. — Seu corpo estava realmente cansado. Tome um bom banho quente e vá dormir. Amanhã você estará renovada. Ele comenta com as mãos agarradas ao volante e sem olhar para Arya.
— Obrigada pela carona. Arya, então, sai do carro. Ia fechar a porta quando escuta o comentário de Casey.
— Não precisa agradecer. Você sabe que estou aqui para qualquer coisa. Ele a observar sair.
— Uhm... Ok. Ela dá um sorriso desconcertado, fecha a porta do carro e caminha apressadamente para casa.

Casey fica ali por um tempo, aguardando Arya entrar. Ele balança a cabeça, como se quisesse que seus pensamentos sumissem, liga o carro, acelera e desaparece na noite.

Tema de Casey




Como havia prometido a sua mãe, Arya não apareceu ao hospital durante o resto da semana. Mas estava apreensiva por uma ligação ou uma mensagem dizendo que ela poderia ir visitar seu pai.



Assim que ouve o toque, pega rapidamente o celular no bolso da calça e sem olhar quem é, atende. 
— Oi.
— E aí, como estão as coisas? — Voz de Casey.
— Ah... — Tom de desânimo. — As coisas estão do mesmo jeito.
— Nada de seu pai voltar atrás?
— Ainda não. Mas sei que minha mãe irá conseguir.
— Você está de folga hoje? Poderíamos tomar um sorvete.
— Casey, acho melhor não. Meu ânimo está no nível zero.
— Ah, eu te ajudo a melhorar esse ânimo. Se não quiser um sorvete, podemos comer uma pizza, ou um sanduíche.
— Acho melhor não. Sério! Não quero estragar o dia de ninguém.
— Poxa, deixa eu tentar te ajudar.
— Como um amigo?
— Arya... Por que você não gosta de mim?
— Casey... — Ela suspira — Nós nos conhecemos há bastante tempo e eu sempre te vi como um amigo. Eu gosto de você, mas como um amigo.
— Mas eu quero saber o que há de errado comigo...
— Entenda uma coisa: não há nada de errado com você. Você é uma pessoa maravilhosa.
— Se sou uma pessoa maravilhosa, por que você não me dá uma chance? Você sabe o quanto gosto de você.
Arya escuta a lamentação de Casey revirando os olhos e fica em silêncio por alguns segundos. Sua cara não é das melhores. Esse papo dele já a estava tirando do sério.
— Sabe quando você sente borboletas no estômago só em pensar na pessoa?
— Sim! Claro que sei.
— Aquela sensação de mão suada só de imaginar que a pessoa irá aparecer ali, do seu lado, do nada...
— Tenho sempre isso.
— Pois é... Eu não. Me desculpa ser tão direta. Mas você pediu por isso. Você tem que entender que não somos compatíveis. Não rola a tão falada química.
Casey fica em silêncio por um bom tempo.
— Casey?!
— Er... Uhm... Desculpa... Tenho que desligar...
Antes de Arya falar mais alguma coisa, Casey cancela a ligação.
Talvez qualquer pessoa pudesse achá-la fria ou até mesmo má. Mas ela era assim, principalmente quando se tratava de relacionamentos. Sabia muito bem o que queria.

Tema de Arya e Casey




Os dias parecem não passar. E a angústia só aumenta. Como seu pai estava sendo tão intransigente? Como poderia ele estar proibindo-a de visitá-lo? Os pensamentos de Ayra invadem não apenas sua mente, mas também sua alma. Ela sempre foi muito apegada a seu pai. E não ficar ao lado dele em um momento como esse é terrível. Pensa em ligar para sua mãe. Assim que pega o celular, percebe que tem algumas ligações perdidas, e são exatamente dela.

— Droga. — Pragueja. — Acabei deixando o celular no silencioso. — Comenta para si mesma enquanto retorna a ligação. — Oi, mãe. Papai mudou de ideia?
— Arya... Você pode vir ao hospital agora?
— Claro que posso, mãe. — Seu tom é de animação. — Poderei vê-lo hoje, então.
— Já pedi ao Casey para ir te buscar.
— Poxa, mãe! Logo o Casey?
— Arya, ele é um bom amigo. Valorize-o. — O tom de voz melancólico.
— Mãe, aconteceu alguma coisa?
— Só venha assim que Casey chegar... — A mãe não fala mais nada e desliga.

Arya olha para o celular sem acreditar naquilo. Sua mãe havia desligado sem ao menos se despedir. Isso não é normal. Um pânico toma conta de seu coração. Será que a situação de seu pai havia piorado? Com as mãos trêmulas de nervoso, Arya corre para se arrumar.

Quinze minutos se passaram e ela escuta seu celular tocar novamente. Ela olha no display e é Casey.

— Já estou saindo. — Sem deixar que o rapaz diga alguma coisa, Arya desliga, pega rapidamente sua bolsa, fecha a porta da casa e desce as escadas correndo. Vê o carro de Casey estacionado do outro lado da rua. Ela atravessa, abre a porta do carro e entra logo em seguida.  — Percebi que minha mãe estava estranha ao telefone, aconteceu alguma coisa?
— Uhm... Não sei... Ela só me ligou e pediu para vir te pegar. — Casey comenta, sem olhar para ela. Seus olhos estão focados no trânsito, que naquele horário não era intenso.
— Certeza?
— Aham...

Arya resolve ficar calada depois da resposta monossilábica de Casey. Agora ela tem a certeza de que algo não está bem. Ele nunca foi de lhe responder assim. Ele sempre tinha algo a dizer.

Assim que chegam ao hospital, Arya sai do carro quase que imediatamente. Espera apenas Casey estacionar. Se ele não iria abrir a boca e dizer o que estava acontecendo, ela iria saber de sua mãe.

— Espera, Arya! — Casey pede.

Ela não dá ouvidos ao pedido dele e caminha apressada até o interior do hospital. Segue com os mesmos passos até o quarto onde está internado seu pai. Abre a porta e vê o quarto vazio. Roupa de cama trocada e sem nenhum aparelho. Ela abre a bolsa, pega seu celular e liga para a mãe. Sua ligação é atendida no segundo toque.

— Mãe, onde a senhora está? Já cheguei.
— Estou na administração do hospital. Já já te encontro na recepção. — Novamente desliga sem se despedir.

Arya observa o display do celular ficar escuro. “Administração? Isso quer dizer que meu pai teve alta?”, seu pensamento a deixou mais aliviada e feliz. Era tudo o que ela queria: estar com seu pai bem e em casa.

Caminha despreocupadamente até a recepção do hospital. Há algumas poltronas vazias por ali; Arya então senta à espera de sua mãe. Por volta de meia hora depois, ela se aproxima. Seu semblante está triste e seus olhos vermelhos e marejados. Ela não precisa dizer nada.

— Não! — Arya se levanta e aperta os ombros da mãe sacudindo-os. — Não... Não... Meu pai não! — O mundo desaba sobre a cabeça de Arya. O desespero toma conta de cada célula de seu corpo.
— Foi melhor assim, querida. — A mãe afaga seus cabelos. — Ele estava sofrendo muito.
— Não é justo! Eu não pude estar ao lado dele, mãe! Eu não pude fazer nada. Nem dizer o quanto eu o amava.
— Ele sabia, minha filha. Ele sempre soube de seu amor por ele. Por isso que ele fez de tudo para você não vir ao hospital. Ele não queria ver seu sofrimento.
— Eu quero vê-lo, mãe.
— Filha... É melhor não...
— Mãe... Por favor... — A súplica de Arya não está apenas em suas palavras, mas também em seu olhar.
— Tudo bem... — A mãe consente — Vamos, então. — Ela segura a mão da filha e a vai guiando pelo extenso corredor. Por fim, para em frente a uma enorme porta.
— É aqui que ele está?
— Sim... Estão preparando o... — A mãe não consegue terminar sua fala. A emoção lhe toma conta e as lágrimas rolam por seu rosto. 

Arya, envolta no mesmo sentimento, a abraça forte.  Ambas ficam ali, em pé, abraçadas durante um tempo. 



O silêncio é quebrado pelo ruído da porta sendo aberta. Dois rapazes saem lá de dentro, conversando naturalmente. Deparam-se com as duas abraçadas, em prantos, em frente à porta.

— Er... Parentes do senhor Caleb? — Um deles pergunta.
— Sim, ele é meu pai.
— O corpo já está pronto para ser encaminhado ao velório.

Arya tem vontade de dar um soco na cara dele. Como ousa dizer “o corpo”? Rapaz insensível. Olhando-o fulminantemente, ela adentra a sala onde seu pai está. A mãe prefere ficar do lado de fora. Sabe que não suportaria vê-lo assim. Arya se aproxima e encara o corpo ali inerte.

— Como eu queria que tudo isso fosse um sonho, paizinho. Por que o senhor teve que nos deixar? — Ela acaricia a face do pai. Suas lágrimas são nítidas e sua tristeza é quase que palpável. — Eu não pude me despedir. Isso é tão injusto! — Ela é tomada por um torpor. — Paizinho... Como será... nossas vidas... sem o senhor? — Suas palavras saem em meio aos soluços — Eu te amo, paizinho. Te amo... Está me ouvindo? — Suas mãos estão trêmulas, seus olhos embaçados e seus joelhos, fracos, encontram sustentação no chão. — Por quê? Por quê? — Cobre o rosto com as mãos sem parar de chorar. — Isso é um sonho... Um pesadelo... Eu vou acordar... — Ela balbucia e tenta se levantar. Não encontra forças. Sente seu corpo formigar, sua cabeça rodar. Todo o lugar parece espremê-la e ela acaba por tombar no chão, desacordada. 

Tema Caleb e Arya


Continua…



24 comentários:

  1. Amei o conto! Muito bem amarrado e já estou esperando a segunda parte!

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    1. Ôh amiga, obrigada pelo apoio! É muito bom saber que você gostou! 😘

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  2. Parabéns, arrasou mais uma vez♡ Merece o mundo♡

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    1. Mesmo não se identificando, sei exatamente quem você é kkkk Nunca irei esquecer seu jargão "Você merece o mundo!" Obrigada , Nath 😘

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  3. Caramba!Fez-me chorar! Adorei. Continue a escrever coisas emocionantes.

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  4. Respostas
    1. Obrigada, amigo! Que bom que gostou! Sinto-me lisonjeada por seu comentário!

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  5. Parabéns. Me emocionei muito. Estarei esperando o próximo capítulo.

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    1. Fico muito feliz que minhas palavras conquistaram o objetivo, emocionar meu leitor. Seu nome não aparece no comentário rsrs

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  6. Parabéns! Verdadeira lição...continue brilhando.

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  7. Obrigada! Tento escrever algo que o leitor possa se identificar e também tirar algum ensinamento.

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  8. Nanda Brasil é prata da casa!sucesso

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