terça-feira, 4 de agosto de 2020

Pule, Arya! - Capítulo Cinco: Pule para fora? Ou pule para dentro?



Arya dá uma pequena mordida no sanduíche. Estar no mesmo ambiente e tão perto de Aiden não está ajudando seus pensamentos. O ar condicionado do carro está ligado, mas o calor que Aiden emana é muito maior. Suas bochechas a cada mordida se tornam mais rubras. É como se ela imaginasse que o estivesse mordendo. Tem medo de abrir a boca, e denunciar seus pensamentos.
— E então... para onde estamos indo? – Casey quebra o silêncio com sua pergunta.
— Vocês saberão quando chegarmos. – Aiden responde completamente evasivo.
— Cara, por que essa desconfiança?
Aiden olha para Casey pelo retrovisor interno do carro. — Simplesmente porque eu não confio em você.
— Não seria “em vocês”? – Casey pergunta irônico fazendo as aspas com os dedos.
— Não. — Aiden faz uma pausa. — Arya não seria burra em colocar a vida da mãe em risco. Então nela, eu confio.
Com os olhos semicerrados Casey desiste do papo e fica a observar a estrada pela janela. “Esse cara está começando a me tirar do sério!”
Aiden dá um sorrisinho de vitória vendo que Casey se cala. “Não ouse  querer brincar comigo. Sei muito bem como te colocar no seu devido lugar.”
— Aiden, você não precisa se preocupar. Casey é meu melhor amigo. Ele não fará nada para me prejudicar. Eu confio nele. Então você também deveria confiar. – Arya tenta ajudar a melhorar o clima, que está um pouco pesado.
— Vamos ver... — Ele aperta as mãos contra o volante por não gostar dessa defesa ao Casey. “Que merda de sentimento é esse?!”


— Acorde. – Aiden sacode um pouco bruscamente o ombro de Arya.
Ela, incialmente, aperta os olhos e depois vai abrindo-os vagarosamente. — Chegamos?
— No primeiro ponto sim. — Ele responde. — Já que acordou, limpe a baba. Quase alaga todo o carro. — Ele comenta escondendo o riso e sai do carro.
— AHHHH, AIDEN EU TE ODEIO! — Ela solta sua raiva gritando com toda a força de seus pulmões. — Que cara mais atrevido! — Perde até a vontade de se espreguiçar. Coisa que sempre faz quando acorda. Sai do carro batendo a porta com força e bufando de raiva.
— Foi mordida por algum bicho? – Casey se aproxima e lhe entrega um copo de café do Starbucks.
— Expresso ou Americano?
— Você ainda pergunta? — Ele finge que irá jogar o copo nela. — Você acha que eu iria errar? Boba! – Ele ri.
Ela também ri e pega o copo. Dá um gole generoso. — Estava sentindo falta disso. Café é tudo de bom.
— Agradeça ao bom samaritano ali. — Casey comenta em um tom não muito agradável e aponta para Aiden.
— Você pediu ou ele ofereceu? – Ela pergunta curiosa
— E isso faz diferença? – Casey demonstra um pouco de irritação.
— Precisa me responder assim? Caramba... eu te fiz o quê?
Ele passa as mãos pelos cabelos. — Desculpa... eu só estou cansado de andar no escuro.
— Sei bem como você se sente. Mas não podemos forçá-lo abrir a boca. As coisas podem piorar. Ele é como um barril de pólvora. Temos que mostrar que somos confiáveis.
— Arya, você não entende! Ele nunca irá confiar em mim.
— Deixa de bobagem, Casey. Você é muito cismado.
Casey abre a boca para comentar algo, mas é surpreendido por um barulho estrondoso: uma grande porta de metal sendo aberta. — Putz! Que susto!
Um homem alto e musculoso sai e observa a movimentação. — Esse carro é de vocês? – Ele encara Arya e Casey.
— Por quê? – Casey também o encara.
— É sim... — Ela não o encara. — Iremos tirá-lo da sua porta. — Ela puxa Casey — Vamos chamar nosso amigo. É ele quem está com a chave do carro.
Os dois caminham apressados na direção que Aiden havia ido.
— Você é maluco? Querendo procurar briga com o cara...
— Não procurei briga com ninguém. — Casey para e olha para Arya. — Ele nos encarou primeiro. E eu já estou farto de ser intimidado.
— Casey, que é! Se acalma! Ninguém está te intimidando.
— Agora você vai ser a advogada do diabo, é? — Ele parece meio transtornado com tudo.
— Olha só... eu irei entender perfeitamente se você quiser voltar para casa. Você está se esforçando para mudar sua vida por minha causa. E isso não é justo.
— Será que é tão difícil assim entender que aonde você estiver, eu também estarei?
Arya fica em silêncio. Sabe muito bem sobre os sentimentos do amigo, mas não pode corresponder. Para ela, Casey é um irmão mais velho.
— Vamos procurar Aiden... – Ela desconversa.
Casey bufa, deixando aparente toda a sua frustração, mas a contragosto, a segue.
Não precisam caminhar muito para encontrar Aiden encostado em um muro, fumando.
— Não queremos atrapalhar seu momento de diversão, queremos apenas a chave do carro. Tem um ogro querendo que tiremos o carro de lá. – Casey fala segurando ainda seu copo de café.
Aiden levanta uma das sobrancelhas e esboça um sorriso irônico. — Um ogro?
— É... um cara gigante e mal encarado.
Arya dá um beliscão forte no braço do amigo. — Casey, larga de antipatia com as pessoas. Coisa feia.
— Hey! – Ele acaba por largar o copo de café no chão por conta do beliscão.
— Bem feito!
Aiden, alheio aos dois, joga o cigarro no chão, pisa apagando-o e caminha com as mãos nos bolsos. Até onde o carro está estacionado.
— É por conta desse seu jeito que Aiden não confia em você. – Arya sussurra para o amigo e caminha logo atrás de Aiden.
Casey prefere ficar calado. Observa o café derramado no chão. Chuta o copo longe e depois de um suspiro resolve retornar até o carro. Ele percebe, assim que retorna, Aiden abraçando forte o cara da garagem. Ele os observa sem entender nada.
— Jake, essa é Arya. – Aiden a apresenta assim que sai do abraço.
— Prazer, senhorita Arya. – Jake a cumprimenta educadamente.
— O prazer é meu, Jake. — Ela retribui o cumprimento. — E aquele ser emburrado ali... — Ela aponta para Casey. — É meu amigo, Casey.
Jake imita o cumprimento militar com a mão direita. Casey apenas levanta timidamente a mão direita em resposta.
— A sua encomenda já está lá dentro. – Comenta Jake.
— Maravilha! – Aiden sorri. — Vamos entrar para nos organizarmos e identificar a melhor rota. – Ele pousa a mão esquerda nas costas de Arya e a conduz para dentro da casa.
Jake espera Casey também entrar para fechar a barulhenta porta de metal. — O lugar não é grande, mas dá para o gasto. – Ele ri inibido.
— Larga de besteira. Só precisamos de um lugar para tomar um banho e descansar por algumas horas. – Responde Aiden.
— Banho?! Graças a Deus! – A garota comenta sorrindo.
— Não sei se a roupa que consegui para você será do seu agrado. – Jake a observa.
— Não se preocupe! Eu não sou exigente.
— Se você quiser, já pode tomar seu banho. Jake e eu temos algumas coisas para resolver.
— Vocês não irão precisa de minha ajuda? “Talvez eu consiga descobrir alguma coisa.”
— Não se preocupe. Tente descansar. – Aiden esboça um  sorriso para ela.
Arya é pega desprevenida com o sorriso. Ela sente seu corpo todo tremer em reação a esse gesto. “Se acalme, Arya. É apenas um sorriso.” Ela, então, segue para o banheiro.
— E quanto a mim? – Questiona Casey.
— Uhm... — Aiden o observa por alguns segundos. — Já temos dois ogros que dão conta de tudo. Você pode ficar vendo TV... talvez algum programa para criança. – Aiden comenta rindo.
Casey, sem pensar, e revoltado pelo comentário, parte para cima de Aiden já com o punho fechado. — Você vai ver quem é a criança.
Aiden, mesmo sem esperar pelo ataque do rapaz, consegue se esquivar. — Garoto, você ainda tem muito o que aprender. Espero que no futuro, pense bem antes de agir. Você pode causar sua própria morte... ou a morte de alguém... — Ele dá o conselho olhando seriamente para Casey. — Vamos, Jake.
Os dois saem da pequena sala, deixando Casey sozinho.
Casey se senta no sofá. Fica perdido em seus pensamentos. “Aiden, você não perde por esperar! Você, em algum momento, irá baixar a guarda...”


Ainda sonolenta, Arya tenta correr até o banheiro. Seu estômago está embrulhado. Abre a porta rapidamente. Vai até o vaso sanitário e vomita. Ajoelha-se ao chão, sentindo seu corpo um pouco fraco.
A cena não demora muito, mas para a plateia que assiste à situação, parece que o tempo não passa.
Arya pode ouvir um pigarro bem próximo a ela. Ao se virar, vê Aiden dentro da banheira. 
Seus olhares se cruzam. 
Ela balbucia alguma coisa inaudível. Envergonhada se levanta do chão e sai do banheiro tropeçando e se batendo da porta.
— Hey... – Aiden sai da banheira puxando rapidamente a toalha, se enrola e vai atrás da garota. Mas ao sair do banheiro, só escuta a batida da porta do quarto onde ela estava dormindo. — Droga! – Desiste de tentar resolver a situação e volta ao banheiro para se vestir. “O que essa garota deve estar imaginando?!”


Aiden não consegue dormir depois da situação no banheiro. 
Não para de pensar no que Arya poderia estar pensando. Seus pensamentos são interrompidos pelo comentário de Jake.
— Acho melhor acordá-los. Os pães são mais saborosos quentes. – Jake sorri.
— Deixe-os dormir mais um... – Aiden não consegue terminar sua fala, pois ouve a porta do quarto, onde Arya e Casey estavam dormindo, se abrir.
— Bom dia! O cheiro do pão me acordou. Estou faminto. – Casey sorri se aproximando da mesa na cozinha.
Arya também se aproxima, mas não está tão animada quanto Casey. Ela não faz contato visual com Jake e muito menos com Aiden.
— Bom dia, Arya! – Jake a cumprimenta.
— Bom... bom dia... Jake. – Ela responde timidamente e sem fazer contato visual.
— Podem se servir. – Ele informa.
— Opa! Não precisa falar duas vezes. – Casey se aproxima da mesa e começa a montar um sanduíche.
— Seu estômago está melhor? – Aiden pergunta despretensiosamente para Arya.
— Uhum... – Ela quase que cola ao lado de Casey como se quisesse fugir do contato com Aiden. “Por que ele tinha que perguntar isso na frente de todo mundo? Daqui a pouco Casey irá querer saber como Aiden ficou sabendo sobre minha dor de estomago. ”
Aiden percebe que a garota não quer muito papo então a deixa quieta. Espera que os dois preparem o que comer, e por último, faz o seu sanduíche.
Os quatro tomam o café da manhã em silêncio. Provavelmente por conhecerem a mania de Aiden de nunca conversar enquanto estivesse ceando.
Aiden é o primeiro a se levantar, lavando a louça que usou e se afastando dos três.
— Ele está muito mais calado do que o normal. — Pontua Casey. — Aconteceu algo de errado com o plano de vocês. – Ele olha para Jake.
— Não aconteceu nada. Está tudo na mais perfeita ordem. Mas acostumem-se ... Aiden é assim mesmo... um quebra-cabeça. Mas quando conseguem juntar todas as peças, percebe sua essência. Ele é um amigo valoroso.
— Acho difícil conseguir isso. Para mim ele sempre será um pé no saco. – Casey comenta sincero.
Jake dá um suspiro em discordância ao comentário de rapaz. E Arya demonstra estar no mundo da lua.
— Psiu! Arya?! – Casey estala os dedos próximo do rosto dela.
— Oi! O que foi?! – Ela responde quase engasgando com o último pedaço do sanduíche.
— Sua passagem a Marte deve ter sido de primeira classe, hein? — Jake ri. — Você estava completamente alheia a nossa conversa.
— Ah... me desculpa.
— Relaxe. – Jake se levanta, recolhe a louça que está sob a mesa e a coloca dentro da pia.
Arya também se levanta e leva sua louça a pia. – Jake, pode deixar que eu lavo tudo.
— Nada isso! Já estou acostumado.
— Sério... pode deixar isso comigo. Essa é a pequena forma que posso demonstrar o quanto estou grata por sua hospitalidade.
— Uhm... tudo bem então. Irei ver se Aiden precisa de mais alguma coisa.
Ela dá um sorriso amigável para ele. Assim que Jake sai da cozinha ela se vira para Casey. – Acaba logo com isso. Você demora muito para comer.
— Calma, já estou terminando.
Enquanto ela espera o amigo terminar o café da manhã, começa a lavar a louça.


— Obrigado, Jake, por tudo! — Aiden agradece ao amigo.
— Caraca! Outro carro? — Casey se aproxima do novo carro e o analisa. — Ótima máquina.
— Para que isso? O outro estava com algum defeito? – Arya pergunta.
Jake olha para Aiden e ri.
— Tenho que te lembrar que estamos fugindo. — Aiden comenta. — Toda segurança é pouca. — Aiden, por fim, se despede do amigo lhe dando um forte abraço.
— Se cuida! – Pede Jake.
— Sempre! – Aiden sorri entrando no carro.
Arya e Casey acenam para Jake e também entram no carro. Com todos acomodados, Jake abre a enorme e barulhenta porta de metal. Aiden acelera e sai com o carro em macha ré.
Ainda é muito cedo. A rua está deserta. Aiden dá duas buzinadas em forma de agradecimento e segue o novo caminho trilhado. Como ele percebe que Arya continua calada, sintoniza o rádio do carro e logo uma música ecoa em todo o carro. Por causa da música, Arya se encolhe mais no banco do carro e olha para o cenário lá fora.
Tema do rádio

“Eu pulo para fora? Ou pulo para dentro?” Os pensamentos de Arya estão muito mais dubitáveis depois de observar Aiden de canto de olho, e perceber um breve riso safado. “O que ele está pensando?”

2 comentários:

  1. Eita lasqueira no final da feira! Se minhas unhas acabarem a culpa é sua, Fernanda! Já quero o próximo capítulo.

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